top of page

FAKE OU FATO?

Sobre pós-verdade e desinformação (ou fake news?)

 

A liberdade de expressão é uma conquista relativamente recente, ela surge com as revoluções liberais do século XVIII. A mais famosa é a Revolução Francesa, com seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No Brasil, a Constituição de 1988 garante a livre manifestação do pensamento, da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. 

 

Até o século XX a produção da comunicação e expressão das ideias livres parecia estar restrita à quem tinha acesso aos veículos de comunicação de massa: jornais de circulação nacional, rádios e TVs. O que não aparecia nesses canais, praticamente não existia. Com a evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) o acesso aos meios foi democratizado, e passamos ao tempo da autocomunicação de massa, expressão fundamentada pelo pesquisador Manuel Castells (2015). 

 

A possibilidade da autocomunicação de massa ofereceu a qualquer um com acesso às redes virtuais a chance de espalhar suas ideias pelo mundo, sejam elas fundamentadas ou não no conhecimento científico ou em fatos comprovados. 

 

No limite dessa liberdade potencializada pelas redes, surgiram os fenômenos da pós-verdade, da desinformação (mais conhecida como fake news) e do firehosing. 

 

Para a pesquisadora Alexis Wichowski, a pós-verdade é o resultado da fuga da realidade por pessoas que não querem encarar os fatos. Essa tendência das pessoas ignorarem evidências que as deixam desconfortáveis não é uma novidade, a novidade é que isso se tornou algo aceitável. Deixou de ser sinal de ignorância da realidade. Para Alexis a internet permitiu que o fenômeno da pós-verdade se popularizasse, pela rapidez com que as notícias se espalham e a facilidade de encontrar outras pessoas que pensam igual a nós - nos fechando em bolhas. Está cada vez mais fácil mantermo-nos em bolhas onde podemos escolher a “verdade” on-line que é mais conveniente, do que encontrarmos tolerância suficiente para discussões proveitosas com quem pensa diferente de nós. Uma realidade que facilita os extremismos (veja a animação sobre isso

​

As famosas fake news são uma expressão da pós-verdade. A UNESCO prefere chamar as fake news de desinformação e o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva (2018) chama de notícias intencionalmente fraudulentas  (assista vídeo com o jornalista). A notícia, enquanto produto do trabalho profissional do jornalismo, teria uma outra conotação que não pode ser relacionada a falsidade, mas sim a cobertura ética dos fatos. Se é notícia, não pode ser falsa. O que indica uma contradição no próprio termo, que busca confundir o que é ou não notícia.

 

Da mesma forma que a pós-verdade, a desinformação não é uma novidade.  O jornalista Fergus Bell (2018), especialista nas áreas da verificação, inovação na redação de notícias e em jornalismo colaborativo, chama a atenção para o fato de que toda propaganda tem um pouco de "fake news", pois trabalha no limite da desinformação para convencer o seu público-alvo a adquirir certos comportamentos de consumo. Quem não se frustrou, quando criança, com brinquedos que não faziam nada do que a propaganda mostrava? 

 

As fake news são criadas - muitas vezes usando as técnicas da propaganda, do jornalismo e os recursos e tecnologias das novas mídias - por grupos ou pessoas que buscam promover conflitos sem fundamento em fatos concretos. Na grande indústria de produção de desinformação (fake news) a verdade pode ser parcial, manipulada ou nula, estimulando consequências violentas ou infundadas e industrializando uma “nova verdade”. 

 

O firehosing elevou o nível da produção de desinformação e se consolidou no campo político. É um fenômeno que compreende a produção massiva de fake news com o intuito de minar a credibilidade de quaisquer outros discursos contrários, inclusive da própria imprensa. Neste processo, tudo que não é o próprio discurso do grupo político envolvido é taxado de fake news - independente da credibilidade de veículos ou mesmo de cientistas e pesquisadores. Assim, são fabricadas informações em larga escala, que negam notícias verdadeiras e repetem-se continuamente, na perspectiva de que uma mentira repetida a exaustão pode se tornar uma verdade. No entanto, essa prática não apresenta consistência discursiva. Mesmo assim, esse tipo de batalha discursiva entra em contradição com a realidade, ao ponto de questioná-la e torná-la subjetiva. Os indivíduos, bombardeados constantemente em seus meios de comunicação pessoal, acabam absorvendo a narrativa que mais condiz com suas crenças e valores - relativizando a "verdade" dos fatos. A estratégia do firehosing vem obtendo sucesso, pois desgasta os discursos da imprensa e de seus oponentes, além de alienar o público. Os grupos que utilizam o firehosing saem na frente, pois criam e vendem suas narrativas, sobre as quais a imprensa busca checar a veracidade, enquanto seus adversários tentam contra-argumentar com fatos e informações científicas. Mas, para o público, os propagadores da desinformação acabam aparecendo como os protagonistas do debate, ampliando sua popularidade.

 

São esses tipos de práticas contemporâneas de disputa política e alienação que precisamos combater, principalmente na realidade atual que, além do drama do novo Coronavírus, nos apresenta uma verdadeira Pandemia de Desinformação!

​

​

foto_05.jpg

Vídeos:

AlexisWichowski_Video.png

Assista a entrevista com  Alexis Wichowski sobre pós-verdade na era da informação

video02.jpg

"Como lidar com notícias falsas no Whatsapp" do canal Curso Vaza, Falsiane!

bottom of page